“O OUTRO LADO DA VIDA”
Meu eu interior saltou do seu cantinho, escondido
que estava, e abrindo as janelas da incompreensão, viu-se diante de um
espetáculo dantesco.
Seus olhos arregalados viam uma imensa planície,
onde corriam soltos e livres belos exemplares de cavalos selvagens que,
alegremente, troteavam naquele gramado
verde.
Para ele, quase sem fôlego, era a vida a se iniciar,
pois tamanho esplendor só podia surgir Daquele que a tudo criara.
Olhou para os lados, para cima e para baixo e
sentiu-se como que atraído por aquele belo momento.
Tudo o que via era maravilhoso.
Tudo que presenciava era digno de um céu.
Por isso, tomado por imensa felicidade, sentou-se,
cruzou as pernas e ali permaneceu calado, somente contemplando a natureza.
Quantas e quantas vezes havia desejado estar num
lugar assim, sem medo algum, sem tristezas, traumas, amarguras e infelicidades.
Quantas e quantas vezes pediu a Deus que o deixasse pelo
menos, por alguns minutos, vislumbrar um pouco do que e como fora criado este
tão belo Planeta.
Sentiu-se um felizardo.
Um alguém que conseguira ultrapassar as barreiras
humanas e se encontrar frente a frente com o Criador e criação.
Tudo era simples mas, ao mesmo tempo,
impressionante.
Nada de guerras, mortes, genocídios, fome e miséria,
somente paz, aquela paz que tanto sonhara e agora vivenciava.
E, como aquilo lhe proporcionava um prazer
indescritível.
Lembranças de tempos idos não lhe chegavam, pois o
ainda desconhecido era como algo inatingível.
Ninguém havia lhe mostrado esse outro lado, essa
outra face da vida.
Descobria por si só, por ter sido um aprendiz
contumaz, que apenas vivia para os outros, ajudando e colaborando no que fosse
possível e estivesse ao seu alcance.
Era, por assim dizer, um Assis dos tempos modernos.
Talvez, por isso Deus, em Sua infinita misericórdia,
lhe proporcionava este inesquecível momento de glória.
Tinha agora a “certeza” de que o mundo, a vida, não
acaba simplesmente quando um corpo deixa o outro e que chamamos de morte.
Não, havia algo mais e muito mais valioso do que
tudo o que havia vivido até então.
Meu Deus, como estava feliz, como era feliz.
O momento, para ele, era mágico e que jamais iria
esquecê-lo.
De repente, lá na frente, viu que alguém se
aproximava.
Devagar, bem devagar, passo dado com muito cuidado,
como se apenas flutuasse, algo se aproximava.
Sentiu um frio percorrer-lhe aquele corpo que vestia
no momento e ficou somente a observar.
Nada do que via parecia fazer sentido mas sabia que,
aquele algo ou alguém fazia parte de sua vida terrena e, aos poucos, sentiu
um aperto no peito, o coração começou a
bater descompassado e apertando seus olhos sentiu que pequenas lágrimas
começaram a escorrer por sua face.
Quando deu por si e olhando agora aquele vulto que
se formava a sua frente, atirou-se em sua direção, abraçou-o carinhosamente e
uma palavra, apenas uma palavra, conseguiu pronunciar, já que os soluços não o
deixavam falar:
PAPAI!
JC Bridon